Problema e método
O “platonismo cristão”: uma expressão ambígua
O «platonismo cristão» é um fenômeno que caracteriza todo o primeiro milênio do pensamento teológico cristão, para não sobreviver em seguida senão de maneira episódica no pensamento teológico ocidental — enquanto permanece de longe a linha dominante na teologia oriental. Entendo por isto a utilização da filosofia platônica como forma de expressão teológica e como estrutura da imagem do mundo na qual as verdades reveladas se substituem. Mesmo se parece que este fenômeno esteja definido sem equívoco pela fórmula «a filosofia platônica a serviço do pensamento cristão», o que se designa por esta expressão resta muito diferente em cada caso.
Segue um breve lista de pensadores cristãos e seus aportes platônicos na meditação cristã.
Isolamento dos temas
Trata-se sempre de elementos de pensamento diferentes, por vezes mesmo opostos uns dos outros, quando se fala de uma retomada destes elementos no pensamento cristão (e frequentemente, não se trata senão de uma transposição de elementos platônicos em um pensamento que é cristão essencialmente) e que se reagrupa estes fatos sob o nome de platonismo cristão. O platonismo cristão é um fenômeno muito mais complexo para que se possa circunscrever sem equívoco, e para que se possa começar por apresentar o sistema platônico para em seguida estabelecer a natureza, a quantidade e o estilo dos empréstimos cristãos, ou pelo menos do que foi utilizado no pensamento cristão para exprimir motivos autenticamente cristãos. Valeria mais tratar a questão caso a caso, quer dizer para cada «platônico cristão», ou para cada pensador cristão formado pelo platonismo. Além do mais, não se deve contentar em identificar os elementos platônicos que foram retomados em cada caso. É preciso ainda ampliar e aprofundar o exame até a questão de saber que atitude particular cada um destes elementos possui para exprimir conteúdos cristãos, ou qual perigo de deformação destes conteúdos está oculto na aplicação da forma platônica do pensamento.
Confrontação com outros sistemas
Se queremos compreender corretamente a aptidão dos elementos platônicos a exprimir motivos cristãos, ou ao contrário o perigo de falsificação e de desfiguração do conteúdo cristão que resultou da aplicação destes elementos, não basta se limitar ao platonismo unicamente, mesmo se o consideramos em todas as fases de seu desenvolvimento. Assim é preciso igualmente confrontar o platonismo a outra forma fundamental do método filosófico e da compreensão daquilo que é, que conhecia o mundo antigo, e que se opunha ao platonismo ao nível do pensamento profano, a saber, o aristotelismo.