Paul Nothomb: O HOMEM IMORTAL [PNHI]
Notemos que a fórmula “foi dito” no passivo impessoal é a tradução literal da fórmula rabínica “sheneemar” que precede toda citação bíblica na exegese judaica tradicional. Por respeito emprega-se esta forma impessoal em lugar de “Deus disse” ou “a Bíblia disse”, mas é certamente a Palavra de Deus que é designada. Da mesma maneira “Entendestes que que foi dito” na boca de Jesus introduz uma citação da Bíblia hebraica, em seguida seguida de um “Mas eu, vos digo” que acentua a amplitude no sentido do rigor mais extremo.
Com esta exigência infinitamente acrescida dos célebres “Mas vos digo” de Mateus e Lucas, como com o “mandamento novo” do qual fala João, Jesus põe manifestamente o patamar a uma altura que ele somente pode alcançar. Ou pelo menos, a uma altura que só se pode alcançar com a ajuda de Deus. E não é justamente isto que Jesus quis dizer com estas palavras extraordinárias? Mais que uma “lei” ou mesmo que um ensinamento moral (o amor no sentido forte, é muito evidente, não se ordena), vejo no que se denomina a “lei do amor” propriamente evangélico em oposição com a “lei de justiça” de Moisés, uma propedêutica de Jesus, destinada, não a desencorajar os discípulos, mas a os confrontar a ter nele confiança. A persuadi-los que esta ajuda de Deus, ele dispõe em toda circunstância. A se fazer reconhecer por eles como aquele que tem consciência de ser. (Ou que a Igreja primitiva cria que fosse). Em declarando, por exemplo: “Sede perfeitos como vosso pai celeste é perfeito” (Mt, 5,48), Jesus faz outra coisas que não seja “elevar o patamar” ao nível de Deus para aí se situar?