Os discípulos disseram a Jesus: sabemos que nos abandonarás; quem chegará a ser grande entre nós? Jesus lhes disse: lá onde ides, ireis até Tiago o justo, pois quem retorna, ao céu e à terra lhe concerne (ou: para que o céu e a terra foram feitos). Roberto Pla
Os discípulos disseram a Jesus: Sabemos que nos deixarás; quem se fará grande sobre nós? Jesus lhes disse: No ponto que estareis, ireis a Tiago o Justo: o que concerne o céu e aterra lhe é remetido. Jean-Yves Leloup
EVANGELHO DE JESUS: Mt 18,1; Mc 9,34; Lc 9,46
Roberto Pla
O tema da “grandeza” é suscitado, segundo o relato evangélico, pela mãe dos filhos de Zebedeu em uma petição para seus filhos, os apóstolos Tiago e João. O que eles desejam é alcançar é a proximidade absoluta com Cristo, pois isto é o que significa a apaixonada petição de instalar-se à direita e à esquerda de Jesus, quer dizer, em identidade, em unidade com ele.
Em seguida adverte Jesus aos dois filhos do trono que o trânsito da Paixão — o amargo cálice da vertigem, como diz Isaías — não é um cálice cuja bebida possa eludir-se no caminho até o Reino. Inclusive, os confirma: “Meu cálice, se as bebereis, posto que eles se manifestam dispostos a saborear esse difícil momento para ascender ao Reino, que consiste em morte primeiro e ressurreição depois segundo a sentença que transmite o evangelista: “Se o grão de trigo não cai na terra e morre, não dá fruto”.
Este cálice não pode ser concedido a pedido de ninguém, a não ser que o tome por posse por vontade do Pai todo aquele que está preparado para isso. O cálice é o que confere a grandeza, mas não quando se apura com o propósito de ser o primeiro, mas como resultado de um serviço que se cumpre quando se dá a vida como resgate por muitos (Mt 20,20-28).
Nisso consiste a Paixão completa. Sem dúvida é somente esta Paixão o que se reputa como “grandeza”, ao exigir ao mesmo tempo a prática e o ensinamento dos mandamentos (Mt 5,19). Como diz Lucas com referência ao Batista ao consignar-lhe como grande: o será — será grande — para “devolver aos rebeldes à prudência dos justos e preparar para o Senhor um povo bem disposto” (Lc 1,17).
Se compreende que o caminho até a grandeza se integra no tremendo trânsito da Paixão do Justo em favor dos ainda injustos. Por isso diz Pedro que Cristo é “o justo morto na carne pelos injustos e ungido no espírito”.
Segundo o salmista, “Deus está pela raça do justo”, e por isso Jesus o Vivente, Jesus o ressuscitado, que aparece aos discípulos na Galileia, no Monte Tabor, os pede que sigam o caminho do justo. Se este caminho identifica Jesus o Vivente com Tiago, é porque o apóstolo havia feito voto de não comer pão desde aquela hora em que bebeu o cálice do Senhor até que lhe fora dado ver-lhe ressuscitado dentre os mortos.
Razão pela qual no Evangelho dos hebreus se diz, depois de haver pedido o Senhor em sua aparição que o trouxeram a mesa e o pão, “tomou de pão, o bendisse, o partiu e o deu a Tiago o justo, dizendo-lhe: Irmão meu, come teu pão, porque o Filho do homem ressuscitou dentre os mortos”. Esta informação se deve a São Jerônimo, que diz ter traduzido do grego para o latim este evangelho tão incompreensivelmente perdido. Alguns estudiosos opinam que este logion pode se referir a Tiago Menor, irmão do Senhor. De todas as formas, que Jesus chamasse de irmão a quem comia seu pão, não credita um irmão de sangue senão de espírito, pois ele mesmo havia dito que sua mãe e seus irmãos são aqueles que ouvem e cumprem a vontade de Deus (Mc 3,35). Por outro lado a identificação do São Tiago aludido não é um fundamento religioso senão histórico. Para a exegese oculta o que importa é o motivo da referência ao justo.
Com sua promessa, seguia São Tiago o exemplo de Jesus que em ocasião de sua ceia pascal havia dito: “Porque vos digo que não a (Páscoa) comerei mais até que ela se cumpra no Reino de Deus”.
O cumprimento da Páscoa, consiste na consumação mediante a qual a Pascoa e o copa que o enamorado de Deus come e bebe durante o Caminho, se converte, além do véu, no Pão e no cálice que vem do Reino de Deus.
Daí a promessa de São Tiago e sua bem merecida reputação de justo, pois o pão que vem do céu e da terra. os dois mundos ou esferas da carne e a psyche, vem a servir de Caminho aos homens até o Reino; mas só o pão — e com ele o cálice que a todos convém beber — que oferece o Filho do Homem, uma vez ressuscitado dentre os mortos, é pão de vida e de justiça.
Por isso pode se dizer que ao céu e à terra concernem todo caminho de retorno que culmine para o andar humano em ser
“grande”. Por isso foram feitos o céu e a terra, para que ao caminhar por eles se faça grande o homem, não somente em vontade e capacidade para ser justo, senão ademais, “para retornar aos rebeldes à prudência dos justos” mediante o ato amargo de beber até esvaziar “o cálice da vertigem” (Is 51,17).
Jean-Yves Leloup
« O que concerne o céu e a terra lhe é remetido » pode ser lido em um sentido pejorativo: « Se ainda necessitam de um Mestre exterior, de um chefe, enquanto não sois capazes de seguir o Mestre interior, ides a Tiago, ele organizará tudo isso. A constituição de uma assembleia estruturada ou de uma igreja lhe concerne ».