Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 92
v 7 Todavia, digo-vos a verdade, convém-vos que eu vá; pois se eu não for, o Ajudador não virá a vós; mas, se eu for, vo-lo enviarei.
O que diz Jesus é que ele deve consumar sua obra segundo o plano divino, que consiste em Paixão, morte e ressurreição, para chegar à glorificação do Filho do Homem. A consumação trará como consequência a ausência imediata do Cristo manifesto no mundo; mas essa ausência convém aos que o seguem, porque o caminho completo que há de cumprir Jesus é um paradigma para todos.
Quem saiba “olhar” ao Filho do Homem “levantado” (gr. hypsoo = elevar, levantar; em forma figurada: glorificar) na cruz, e crer, “viverá”, porque ficará facultado para “receber” o Espírito Santo “enviado” pelo Filho que está junto ao Pai.
Mas é necessário aprender a “olhar” a Jesus na cruz, “transpassando” o que se olha, para ver, através dele o ungido, ao Filho do Homem. Por isso recorda o evangelista o que diz a Escritura: “Olharão ao que transpassaram”. Só os que alcançam a “transpassar” a Jesus quando o olham levantado na cruz, “verão” ao Filho do Homem.
vv. 8-11. 8 E quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: 9 do pecado, porque não creem em mim; 10 da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais, 11 e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado.
O Paracleto é sempre o Espírito Santo que há de guiar ao homem até a verdade completa. Uma vez pousado sobre o seguidor de Cristo, começa o Paracleto a cumprir sua obra que consiste em ungir de “verdade” o espírito do homem. A unção prolongada, permanente, é o Espírito que se une ao espírito e o leva a verdade enquanto ao mundo, porque o mostra a verdade do não mundo.
Assim, frente ao não crer característico do mundo, advém no homem a fé confiada e firme em que o Filho do Homem, sabedoria e vida eterna, pôs em todo homem sua morada, e ali está, qual semente pronta a dar seu fruto. O não crer isto é o pecado, a deficiência essencial do homem.
Assim se descobre a justiça, segundo a qual o Cristo manifesto no mundo subirá (subiu já) ao Pai; e ele mesmo é o Cristo oculto, invisível, mas perceptível, como um aroma, pela consciência desperta, pois ele é o espírito do homem uma vez que este é ungido pelo Espírito.
Assim ocorre que o juízo verdadeiro o formula o ungido, que condena ao mundo, porquanto descobre por si mesmo que a vida não é do mundo, senão que o mundo a “vive” como um empréstimo transitório cedido pelo Espírito.
vv. 12-13a 12 Ainda tenho muito que vos dizer; mas vós não o podeis suportar agora. 13 Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade.
O Espírito Santo, o Paracleto, é o que guia até a verdade completa, pois a verdade só se descobre a partir das perguntas do homem que se interroga a si mesmo, quando espera através do “si mesmo” a resposta do Espírito no qual crê.
Em geral, as perguntas ao si mesmo, são perguntas sem fé de resposta e costumam cair no vazio. No entanto, quando o homem crê no Espírito que “nele mora e nele está”, formula suas perguntas com dé de resposta. Em tal caso a resposta não falta jamais.
Esta atitude é a que jesus denomina, convencimento do mundo no referente ao pecado. Não crer isto é o pecado e crer isto, libera por si só do pecado e da ignorância que é seu fundamento.
vv. 13b-14 porque não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras. 14 Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará.
O que fala o Paracleto é sempre e unicamente em resposta à pergunta — silenciosa ou não, formulada expressamente ou não — que o homem se faz a si mesmo. Isso é “o que ouve”; mas isso exige uma aprendizagem, uma técnica de perguntar com dé e sossego, pois foi dito: “Tira a pedra de hoje, esquece e dorme”.
Mas a resposta do Espírito não nasce dele, pois o Espírito é o “sopro” no qual Cristo oculto se faz manifesto pouco a pouco. O Espírito recebe ao Filho e com ele cavalga para converter ao homem em “enviado” ungido por ele, pois o comunica sua glória; essa Glória que é do Pai, que nela se reveste, e também do Filho.
Esse resultado é o que busca Jesus, pois é o cumprimento de seu ensinamento.
O que chega à consciência do homem é o sopro, “um vento que sopra onde quer, e ouves sua voz, mas não sabes donde vem nem aonde vai”. Mas nesse sopro “cavalga” o Filho do Homem que vem do Pai, pleno de Glória.
Este fato se interpreta como “nascer do Espírito”, e da explicação completa ao logion do evangelho: “Dentre de pouco me vereis e pouco depois me voltareis a ver”.