Origenes Igreja Sinagoga

Orígenes — Tratado da Oração — Comentário ao Pai Nosso

XX Igreja e Sinagoga
1 Há diferença entre a Igreja e a sinagoga. Na Igreja propriamente dita, não há mancha nem ruga nem qualquer coisa de semelhante. Ela é santa e imaculada (cf. Ef 5,27). Não há nela nem eunucos nem bastardos nem castrados (cf. Dt 23, 2-3). Nem também egípcios ou edomitas são facilmente admitidos na Igreja até depois da terceira geração (cf. Dt 23, 8-9). Nem se admitem os moabitas ou amonitas até que se passem dez gerações (cf. Dt 23,4).

A sinagoga foi edificada pelo centurião, mas isto aconteceu antes de conhecer a Jesus, antes que o Filho de Deus desse testemunho de que não havia encontrado “tanta fé em Israel” (Lc 7,9; Mt 8,10).

Assim, aquele que gosta de orar “nas sinagogas” pouco difere daquele que ora “nas esquinas das praças” (Mt 6,5). Mas o santo não é assim. Não tem a presunção de orar, mas ora de coração, não nas sinagogas, mas nas assembléias da Igreja. Não nas esquinas das praças, mas no estreito e reto caminho. Nem o faz para ser visto pelos homens, mas para ser visto por Deus, o Senhor. É o varão que entende o que é o ano aceitável do Senhor (cf. Is 61,2; Lc 4,19), e que cumpre o mandamento: “Três vezes ao ano se apresentarão todos os varões diante do Senhor, teu Deus” (Dt 16,16).

2 É preciso refletir atentamente sobre a expressão “apresentar-se” do texto acima citado. Quando significa apenas “aparecer” não é bom, porque só parece ser e não é realmente. Pois isto conduz a nossa imaginação ao erro, não a informando com precisão nem verdade.

Como os atores nas representações teatrais não são aquilo que dizem, nem aquilo que neles se vê, segundo o personagem que reproduzem, assim também são os que só têm aparência de virtude. Não são virtuosos, mas farsantes, são apenas atores, atuando em seu próprio teatro, isto é, nas sinagogas ou nas esquinas das praças (cf. Mt 6,5).

Aquele que não é hipócrita, mas ao contrário, depõe todo ornamento estranho, e se empenha em agradar em outro teatro incomparavelmente superior ao que acabamos de mencionar, entra no seu quarto secreto, onde acumulou para si tesouros de sabedoria e de ciência (cf. Mt 6,6; Cl 2,3). Aí, sem olhar as coisas de fora, nem sair, fecha todas as portas dos sentidos, para que não dissipem nem lhe ofusquem a mente com as suas impressões. E ora ao Pai que não deixa nem abandona tal retiro, mas aí habita com o Filho Unigênito: “Eu e o Pai, diz Jesus, viremos a ele e faremos morada nele” (Jo 14,23).

Se orarmos assim, é evidente que a nossa súplica vai encontrar não só o Deus justo, mas o Pai que não nos abandona como filhos que somos, e está presente em nosso quarto secreto e aí nos olha e aumenta os tesouros lá recolhidos, se guardamos fechada a sua porta.