Hans Urs von Balthasar — Orígenes — Espírito e Fogo
A alma enquanto “meio”
Resumo de von Balthasar
Porém a alma não é nem espírito e nem corpo, mas o “meio transicional” entre ambos. Isto naturalmente não significa uma definição essencial. Pois para Orígenes (como para a maioria dos primeiros Padres) o ser humano é invariavelmente feito de corpo, alma e espírito. O espírito é o elemento celestial e agraciado que irá um dia ser retirada aos amaldiçoados, mas que permanece eternamente unido à alma nos abençoados. A alma é o “meio” ou intermediário vital entre matéria e espírito, mas como tal é também o lugar da escolha se o ser humano será carnal ou espiritual. Se a alma escolhe o espiritual como sua forma de vida, é transformada em “espírito” — não de acordo com sua essência mas de acordo com seu mais profundo modo de ser. Torna-se “carnal” se escolhe o material.
Esta escolha é inevitável (34) e é, em última instância, o único ato religioso (35). Apenas isto decide sobre o bem e o mal (36). O bem é o movimento do (em si indiferente) “meio” da semelhança para a verdade, da matéria para o espírito (37-39). Esta escolha é destinal: salvação não é necessária (40-41), mas resta em nossas mãos (42). Sua realização é um ato livre (43).
A verdadeira ordem vem disto: corpo sob a alma, alma sob (Deus-) espírito (43-45). O corpo é para ser comandado e usado sensivelmente; seus instintos não são maus (46-49), mas são para serem feitos espirituais (48). Para esta finalidade a alma ela mesma deve se fixar no espírito (50). Somente no espírito é ela aquilo que deveria ser; em si mesma ela é imperfeita (52). O espírito do ser humano não é “divino em si” (51), mas, em seu próprio ser, a participação imediata, consistindo de graça e graça concedida, da alma na vida divina a qual será tirada dos amaldiçoados (53).
Resumo com citações
Esta escolha é inevitável — 34
Toda alma é ou de Deus ou de quem quer que tenha recebido poder sobre seres humanos. (Comentários ao Cântico dos Cânticos)
e é, finalmente, o único ato religioso — 35
Cada um está sob o reino do pecado ou da justiça. (Homilias a Isaías)
Apenas isto decide sobre o bem e o mal — 37
A sabedoria humana não é capaz de conhecer e compreender o Senhor nem de reconhecer os juízos e a misericórdia e justiça que ele tenha realizado na terra; é, no entanto, indiferente e “no meio”. … Mas se aquelas coisas que estão no meio são aplicadas à virtude da alma e ao fruto do bom trabalho, se tornam merecedoras de louvor, ou do oposto se aplicadas a atos maus (como quando se oprime uma pobre pessoa através da riqueza ou se derruba uma pessoa fraca através da força). Neste caso elas não são mais consideradas estarem no meio, mas malévolas. Por conseguinte, elas são por esta razão denominadas indiferentes ou no meio, porque podem ser chamadas tanto para o mal quando associadas com atos malignos e boas quando associadas a atos bons. Mas sem esta inclinação para última destas, quem quer que as chame boa é pensada ser inexperiente e ignorante das definições racionais e terminologia. L’adultère
Bem é o movimento do (em si indiferente) meio da semelhança para a verdade, da matéria para o espírito — 39
Você pode ver, então, que um ato que é pensado ser único e o mesmo, tal como a abstenção do adultério, é realmente não mesmo mas diferente; pois as intenções daqueles abstendo podem vir seja da sólida doutrina ou dos motivos mais perversos e ímpios.
Assim como há um vida indiferente que nem é boa nem má, segundo a qual dizemos “viventes” os animais maus e irracionais, da mesma maneira há uma vida outra que não é indiferente mas boa, sobre a qual Paulo afirma: “Sua vida está oculta com Cristo em Deus” ( Col 3, 3), e nosso Senhor ele mesmo falando de si mesmo: “Eu sou a vida” (Jo 11, 25), assim também pode-se dizer que há, em contraponto à vida indiferente, uma morte indiferente; mas é uma morte má e danosa em inimizade àquele que diz: “Eu sou a vida”.
Esta escolha é “destinal”: — 40
Tudo que é ou é feito, é ou bom ou mau ou indiferente. … é certo que as coisas que relacionam-se às virtudes da alma são chamadas boas no sentido próprio; são denominadas más somente se inclinam para o mal e trabalham contra a lei de Deus; o resto é indiferente. Ou seja, elas não devem ser chamadas nem boas nem más, tais com riqueza, beleza do corpo, coragem ou porte, e coisas que são de serviço para o corpo. Se formos ignorantes desta distinção e nos vangloriarmos de coisas que não são verdadeiramente boas e não se relacionam com a virtude da alma, fazemos isto de modo culpável. « N’éteignez pas l’esprit. »
a Salvação não é necessária — 41
A santidade é algo que pode acontecer para toda criatura. Mas se é algo que pode vir a acontecer para ela, é também algo que pode deixá-la. (Tratado dos Princípios) La sainteté
mas resta em nossas mãos (42)
O corpo crescer e tornar-se grande não é algo sob nosso poder. Pois o corpo recebe seu tamanho material, seja grande ou pequeno, de sua origem genética; mas nossa alma tem suas causas e seu livre arbítrio para fazer-se grande ou pequena. (Homilias sobre o Levítico)
Sua realização é um ato livre (43)
A verdadeira ordem vem disto: corpo sob a alma, alma sob (Deus-) espírito (43-45)
Deus não nos fez a sua imagem para sermos sujeitos às demanda da carne, mas para que a alma, a serviço de seu criador, faça uso da ajuda e serviço da carne.
O corpo é para ser comandado e usado sensivelmente; seus instintos não são maus (46-49)
Pois é a vontade de Deus que este grande “produto” de Deus, o ser humano, para desfrute do qual o mundo foi criado, deva não apenas permanecer puro das coisas animais que discutimos, mas também reine sobre elas. (Comentários sobre o Gênesis) — Dominez sur les poissons de la mer…
Parece-me que a concupiscência e a raiva, por estarem em todas as almas, são necessariamente ditas más na medida que nos conduzem para o pecado; mas na medida que a posteridade não pode ser garantida sem a concupiscência, nem qualquer melhoria ter lugar sem a raiva e a punição, elas são ditas ser necessárias e ser preservadas. (Comentários sobre o Gênesis) — Les passions corporelles
Il les créa mâle et femelle…
mas são para serem feitos espirituais (48). Para esta finalidade a alma ela mesma deve se fixar no espírito (50)
O espírito do ser humano não é “divino em si” (51)
Somente no espírito é ela aquilo que deveria ser; em si mesma ela é imperfeita (52)
L’âme est définie comme une substance phantastikè et hormètikè