Evangelho de Tomé – Logion 73

Pla

Jesus disse: A messe é abundante, mas os trabalhadores são pouco numerosos. Rogai, todavia, ao Senhor, para que envie trabalhadores para a messe.

Puech

73. Jésus a dit : La moisson, elle est abondante, mais les ouvriers sont peu nombreux. Priez cependant le Seigneur afin qu’il envoie des ouvriers pour la moisson.

Suarez

1 Jésus a dit : 2 la moisson, certes, est abondante, 3 mais les ouvriers sont rares. 4 Sollicitez donc le Seigneur 5 pour qu’il envoie des ouvriers à la moisson.

Meyer

73 Jesus said, “The harvest is large but the workers are few. So beg the master [Or “lord.”] to send out workers to the harvest.” [Cf. Matthew 9:37–38 (Q); Luke 10:2 (Q); Pirke Avot 2.20.]

Canônicos

E, chamando a si os seus doze discípulos, deu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos, para expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades. (Mt 10,1 seg)

E chamou a si os doze, e começou a enviá-los a dois e dois, e dava-lhes poder sobre os espíritos imundos; (Mc 6,7)

E dizia-lhes: Na verdade, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara. (Lc 10,2) [Apostolado]


Roberto Pla

Segundo a interpretação manifesta tradicional, leia-se messe ou seara, de maneira figurada, como a totalidade das pessoas prontas, maduras animicamente para efetuar sua conversão à fé cristã. Enquanto os trabalhadores são aqueles que pertencentes a esta fé, seguem por sua vontade o exemplo dos discípulos designados por Jesus, os quais foram os primeiros trabalhadores, e cujo cumprimento missioneira deu o Mestre no evangelho algumas instruções precisas.

  • Os sinópticos anotam a missão dos doze discípulos, mas Lucas (10,1-12) informa acerca de outra expedição missionária encomendada aos Setenta (ou Setenta e dois, em outros manuscritos). A interpretação figurativa eclesial discorre que os Doze é a cifra de Israel e os Setenta englobam uma referência à obra missionária nas nações pagãs.

A leitura segundo a vertente oculta toma a messe em sua acepção direta da semeadura, e para interpretá-la nada melhor que a Parábola do Semeador e da qual resulta que o semeador (o Pai), semeia a Palavra (o Filho) em todo homem (a messe), que vem a este mundo.

Sendo a semeadura em todos os homens a Palavra, sem dúvida é o Filho do homem a semente que tem de germinar e dar fruto. Deste modo os trabalhadores são assim denominados porque são chamados a realizar a obra de Deus, sendo eles as almas que em distinta medida começaram a dar fruto de conhecimento [gnosis]. O trabalho que devem realizar estes trabalhadores não é a tarefa missioneira para converter em trabalhadoras outras almas, mas consiste em procurar a própria realização, interior, segundo se explica no quarto evangelho: “Jesus lhes respondeu: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou.” (Jo 6,29)

O trabalho consiste em crer que o Filho do homem foi semeado em nós mesmos, em todos, e que seu reino está aqui, próximo, pois dispôs sua morada em cada homem. Esta é a obra primeira, aquela de onde nasce o fruto da gnosis, esse fruto para cujo desenvolvimento e maturação faz falta que cada um seja um bom trabalhador da messe.

Como se diz a messe é grande — todos os homens que vêm ao mundo — e os trabalhadores, poucos; a desproporção é enorme, pois só são trabalhadores os que creem na semeadura invisível, mesmo sem vê-la, pois com só o pressentimento do hóspede de névoa, se põe a semeadura a frutificar pela fé.

Com isso, a unidade da semente se revela ao final, pois se esclarece que o gérmen, o Filho do homem, é somente um e o mesmo sempre. Isto ocorre aos trabalhadores da messe que perseveram na purgação da prata e na prova do ouro: descobrem sua identidade gloriosa com a messe que nunca faltou.