Archibald Joseph Macintyre: Os Anjos, uma Realidade Admirável. Edições Louva-a-Deus, 1986. [MARA]
Na Sagrada Escritura, os seres espirituais criados por Deus, aparecem sob diferentes designações, com poderes e atribuições determinadas. Entre esses seres, acham-se aqueles que são os mensageiros de Deus, que velam pelos homens e por aquilo que a estes diz respeito, e que são designados simplesmente por Anjos.
Entretanto numa acepção mais ampla, Anjos são todos os seres espirituais criados por Deus, conforme a Definição Dogmática do IV Concílio de Latrão, do Concílio de Trento e de tantas afirmações já referidas no capítulo sobre “A Fé na Existência dos Anjos.”
Embora não haja qualquer dúvida para os católicos quanto a isso, é interessante mostrar, como a exegese e a devoção aos Anjos, fizeram com que escritores e teólogos elaborassem uma como que “classificação” dos Anjos, segundo a missão para a qual Deus os destinou.
Nessa classificação, que corresponde a uma divisão em categorias, há contudo um fundamento teológico, baseado nas referências diretas às mesmas, constantes das Escrituras, e em ilações que decorrem da interpretação de trechos dos textos e das conclusões tiradas das comparações entre referências diversas sobre o mesmo assunto.
Costuma-se dividir os Anjos em nove coros. Esse número de nove coros angélicos apareceu no século IV no Oriente, mencionado por S. Cirilo de Jerusalém (Catechesis Mystogógica, V, 6) e por S. João Crisóstomo (Horn. Gen. IV, 5).
No Ocidente, Santo Ambrósio de Milão (Apologia Proph. David 5,20), também se referiu a nove coros. Essa doutrina tornou-se comum desde o tempo de S. Gregório Magno (Horn. Ev. XXXIV,7; Moral libri XXX, 48; Ep. V, 54).
Foi entretanto Dionísio o Areopagita ou Pseudo-Dionísio quem, no1, apresentou uma classificação dos Espíritos Celestes subdividindo-os em nove coros pertencentes a três hierarquias ou ordens. A tradução da obra de Dionísio foi feita por Scoto Eriugena no século IX e teve ampla divulgação.
A forma admirável como foi elaborada a classificação, mereceu a aceitação por parte de S. Gregório Magno e constituiu para muitos, tema interessante de especulação.
Santo Tomás, na Suma Teológica no Tratado do Governo do Mundo, Questão CVI1I art. I e III, refere se à classificação de Dionísio. São Boaventura, baseado na mesma, desenvolve considerações sobre as funções de cada coro.
Santo Tomás, na Questão CVIII, trata amplamente da “Ordenação dos Anjos por hierarquias e ordens”, desenvolvendo e explicando as razões pelas quais Dionísio estabelecera sua classificação.
Vejamos a hierarquia Celeste, na escala ascendente, como foi proposta por Dionísio:
1a hierarquia ou 1a ordem
1o coro …….. Anjos
2o coro …….. Arcanjos
3o coro …….. Principados
2a hierarquia ou 2a ordem
4o coro …….. Potestades
5o coro …….. Virtudes
6o coro …….. Dominações
3a hierarquia ou 3a ordem
7o coro …….. Tronos
8o coro …….. Querubins
9o coro …….. Serafins
Dionísio admitiu que é o “grau de conhecimento” que os Anjos têm de Deus, que lhes confere a posição que ocupam na hierarquia celeste.
Esse conhecimento angélico é uma participação da Sabedoria Divina, uma fulguração intelectual luminosa conhecida como iluminação.
Essa participação, ainda segundo Dionísio, é imediata nas hierarquias ou categorias primeiras de Anjos e chega às menores pela mediação das superiores ou intermediárias. Baixando de hierarquia em hierarquia, de coro em coro, passa finalmente dos Anjos aos homens. Este movimento descendente de grau de conhecimento de Deus, traz consigo um outro ascendente de louvor a Deus, que vai num crescendo, desde os primeiros coros até o coro mais elevado, que é o dos Serafins.
Dionísio considerava o aperfeiçoamento espiritual dos homens, realizando-se por uma progressão seguindo três estágios de vida espiritual: a purificativa, a iluminativa e a de união com Deus. Estendeu este postulado de sua ascética e mística ao caso dos Anjos, afirmando embora sem argumentos concludentes, que os coros mais baixos (no caso Anjos) podem elevar-se até os primeiros, por um processo semelhante ao da purificação, iluminação e união. Assim, os coros inferiores receberiam dos superiores uma participação de sua perfeição para atingirem coros cada vez mais elevados. (De Coeleste hierarquia 3-6).
São João Damasceno (“De fide orthodoxus” 2,3,ss), acompanha o ensinamento de Dionísio, o que explica a convicção firme da Igreja Grega na existência dos coros angélicos, o que foi reforçado em parte, pelo Segundo Concílio de Constantinopla.
Hierarquia Celestial|Tratado “De Coelesti hierarchia” ↩