Notions philosophiques
Excertos de “Les Notions philosophiques. PUF, 1990
Aristóteles distinguia três modos de vida que os homens podiam escolher na liberdade, quer dizer em toda independência das necessidades da existência (o que exclui destes três modo o trabalho escravo assim como a vida laboriosa do artesão ou aquela, mercantil, do comerciante): a vida de prazer, na consumação da beleza, a vida consagrada aos afazeres da polis, onde se podem produzir belas ações, e sobretudo a vida do filósofo dedicada à investigação e à contemplação (theoria) das coisas eternas, cuja beleza inextinguível é exterior a qualquer intervenção agenciadora do homem. Este primado da contemplação sobre a atividade se fundamenta aqui (como em Platão) sobre a convenção que nenhuma obra humana pode se igualar em beleza e em verdade ao Kosmos eterno. A arte, a técnica são sempre ao mesmo tempo inferiores e posteriores à Natureza.
Michel Henry
(…) é a vida em sua materialidade fenomenológica carnal que define a realidade — e, ao mesmo tempo, a da ação, na medida em que se trata de uma ação real (e não de uma atividade ideal como a de lidar com significações). Como constitui o lugar de toda ação real, a carne define também o da salvação, se é verdade que esta não consiste, segundo o Evangelho, num dizer, mas num fazer — “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mateus 7,21) –, não num saber de tipo cognitivo, mas na transformação prática de uma carne que, cessando de se entregar ao culto de si mesma, já não viverá doravante senão da Vida infinita que a deu a si mesma no início e não cessa de se dar a si até em sua idolatria. (MHE)