QOHELET — ECLESIASTES
Jacques Bonnet
*Études Traditionnelles 485, 1984
Apresentando uma conferência de Armand Abecassis, Bonnet começa pelo questionamento surpreendente se o Eclesiastes seria um hino à felicidade? A palavra Qohelet, seu título em hebraico, é um enigma: Qohelet é um rei, filho de Davi,. Ora esta palavra tem um terminação feminina: qahal é a comunidade religiosa, qohelet é um membro qualquer desta comunidade, um sábio que se associa à espiritualidade de Davi e coloca diante da Assembleia o problema de Israel e de sua Lei, em face da Sabedoria das nações. Na época em que esta obra foi escrita, a Sabedoria dos sábios tinha sucedido a do Profeta dos profetas.
“Vaidade”, hbr. hevel: “Vaidade das vaidades, diz Qohelet, vaidade das vaidades, tudo é vaidade”. A Tradição judaica liga esta palavra ao número sete: a soma de sua letras é 37. Contando o plural havalim para dois, hevel figura sete vezes no versículo acima, 37 vezes (seu número) no Eclesiastes e 70 vezes na Torah.
hevel significa “argila”, “sopro”, “vapor”, algo de passageiro, de inconsistente. É o nome de Abel, aquele só é definido como o irmão de Caim. É, diz Armand Abecassis, “ausência”, não revelação, angústia, vazio fecundo”.
Também a imagem dada pelos judeus é aquela de um vapor produzido por uma marmita que se se escapando esquenta uma outra marmita situada acima da primeira, e de novo o vapor produzido por esta segunda marmita esquenta uma terceira e assim por diante até a sétima. Mas acima da sétima não há nada, e se perde no vazio. Ora este é o tema fundamental de Qohelet: “O homem está na terra para buscar a felicidade, ora o peso de toda a felicidade é nulo, pois tudo é aspiração. A felicidade está no desejo do infinito…”
“Tudo é vaidade”: “Tudo”, em hebreu kpl, serve aos místicos para designar o mundo. Gershom Scholem falando da mística de Isaac o Cego (fina do séc. XII, início do XIII) identifica kol à Sophia, à Sabedoria das nações. É a sabedoria daqueles só conhecem Deus sob o nome de Elohim, os “Deuses”, enquanto o atributo de Sabedoria, sob o nome Hokmah, Sabedoria se comunicando à elite de Israel, surge do Não-Ser ou “Nada” divino, Ain, segundo Jó 28,12.
Kol, tudo como hevel, vaidade, está ligado ao número sete (tem por número 50, quer dizer o jubileu de sete shabbat). É a “distinção” das coisas; há sete dias na semana, sete maneiras de entrar na Torah, segundo Hillel. A Torah ela mesma é sétupla se se juntam os cinco livros do Pentateuco e os dois comentários (parasha) que são o Livre de Ietro (sogro de Moisés) e aquele de Bilam (Balaam), livros perdidos ou incorporados no Pentateuco.
O sentido interior do número sete se encontra nos atributos divinos, Sephiroth, que são a princípio relacionados aos dias da semana. O domingo corresponde a Hesed, o amor, a segunda-feira a Gebura, o rigor, a terça a Tiferet, a Lei escrita, a quarta, a Netsah, a eternidade, a quinta a Hod, a glória, a sexta a Iesod, a circuncisão do Justo, o sábado a Malkhut, a realeza.
Quanto ao dia “messiânico”, ele é do Itron, que aparece, na sequência de Qohelet, sendo traduzido por “benefício” ou “vantagem”: Não há itron abaixo do sol”. Portanto há acima do sol.
Esta palavra itron vem da raiz ITR, que designa a abundância. Iater é o “melhor”. Esta associada ao acadiano (w)ataru, que designa a “preeminência” em numerosos textos babilônicos.
Não se pode deixar de imaginar uma aproximação com Keter, a “Coroa”, o atributo divino supremo, tanto mais que a coroa se diz também atara (com um ain e um tet). A relação entre estas duas designações da coroa é aquele entre a primeira e a décima sefira, a mesma que entra a Soberania e a Realeza que é a realização da Soberania.
Itron é o encontro com Deus sob o nome divino do Tetragrama, YHWH, que está além do sol. Como Qohelet poderia falar de YHWH a homens que só conhecem? As sabedorias cosmológicas estão “sob o sol” (o que não impede que “os céus contem a glória de Deus”).
Todos os termos que apareceram como chaves nos primeiros versos de Qohelet se encontram nos últimos versículos. Há uma verdadeira “inclusão”. A primeira palavra , divre, se encontra também na “conclusão”: “A Palavra sendo finita, tudo compreendido, temas Elohim e observes seus mandamentos, pois é todo o homem”.
Armand Abecassis
*Sophia e a Alma do Mundo
**Talvez este livro de Qohelet nos possa sugerir porque o hebreu não sentiu contradição entre a experiência do mundo e a experiência de Deus que no entanto não parecem se sobrepor. Ele sabia que o saber reunido pelo intelecto buscava a verdade, enquanto o conhecimento visado pelo desejo era o mais certo meio de alcançar a felicidade. Mas os dois não se ontradizem e o sábio no Oriente Médio foi sempre preocupado em formar seu ser segundo seu conhecimento.
*¿Por qué crías a un perro, si has manifestado no poseer nada? Si éste ladra y se echa sobre la gente, es claro que es porque uno tiene algo y quiere defenderlo. Y estoy bien seguro de que un hombre así está alejado de la oración pura, porque sé que la irascibilidad destruye esta oración. Y me asombra que olvides también a los santos, mientras David grita: Cesa en tu ira y deja la cólera (Sal 36:8). Y el Eclesiastés recomienda: Aleja la cólera de tu corazón, y quita la maldad de tu carne (Qo 11:10), mientras el Apóstol nos ordena elevar, en todo tiempo y lugar, manos puras sin iras ni disputas (1 TM 2:8). ¿Y por qué no aprendemos de la antigua y misteriosa costumbre de echar fuera de casa a los perros en tiempo de oración? Ella nos demuestra, alegóricamente, cómo no debe existir cólera en el que reza. Filocalia: Evagrio el Monje Los sueños