Modelado “leveza fora do pesadume”, quer dizer imortal por natureza, o Homem ainda não está acabado. Ele só o será verdadeiramente quando completado de sua “metade faltante”, a Mulher. Mas antes deverá superar outras etapas de sua formação, que paradoxalmente o relato do jardim do Éden, que não é cronológico, nos detalha, enquanto o relato dos seis dias insista na criação instantânea e simultânea do Homem e da Mulher: “Macho e fêmea os criou” (1,27).
O relato do jardim do Éden não contradiz esta igualdade ontológica entre as duas metades do Ser humano, e não autoriza qualquer conclusão misógina sobre uma anterioridade qualquer ou primazia masculina. A Mulher constitui a última “fase” do Homem, mas aparece também como a única criatura originária do jardim. A única, pois as plantas e os animais que aí estavam para o prazer do Homem, como o Homem ele mesmo, aí foram transportados, depois de tirados “fora do pesadume”. A Mulher aí veio à existência. E mesmo exilada do jardim, dela guardará algo. Nossos espíritos ainda hoje em dia, independentemente da atração sexual, não dão a ideia de felicidade a face de uma mulher? Vide as propagandas publicitárias, as capas de revistas.
A realidade no sentido bíblico supõe a existência de Deus como autor, senão desta realidade, pelo menos do cérebro humano que a inventa. Resumindo do Homem, meta e auge da Criação. Duas palavras que sou forçado a escrever com maiúsculas (Criação e Homem) para distingui-las de sua acepção habitual que não corresponde de modo algum a sua significação na “Bíblia das Origens“.
No que concerne o Homem tento utilizar a inicial em maiúsculo para representar o hebreu H’DM (pronunciado “haadam”) que depois da “queda” dá lugar parcialmente — felizmente não sempre! — a ‘DM (pronunciado “adam”) o homem do exílio, o homem mortal. Mas até a “queda” não é questão na “Bíblia das Origens” senão de H’DM que traduzo por Homem.