Charbonneau-Lassay (Bestiário) – Introdução

Charbonneau-Lassay — Bestiário de Cristo

Excertos do livro The Bestiary of Christ, tradução resumida de Dorothea Dooling, publicado pela Arkana, em 1992.

Introdução

O nascimento e a formação da simbólica e da emblemática cristã (versão francesa)

— Introdução resumida na tradução em inglês

“Cuide, acima de tudo, para não revelar os segredos dos mistérios sagrados, e não permita-os serem indiscretamente expostos à luz do dia do mundo profano… Apenas os santos — não todos — podem erguer uma ponta do véu que cobre as coisas que são sagradas… Nossos mais santos fundadores … cumularam a celebração (dos mistérios) com tantos ritos simbólicos que aquilo que é em si-mesmo uno e indivisível só pode aparecer pouco a pouco, como se por partes, e sob uma infinita variedade de detalhes. Entretanto, isto não é simplesmente por causa da multidão profana, que não deve vislumbrar nem mesmo o encobrimento das coisas sagradas, mas também por causa da fraqueza de nossos sentidos e espírito, que requerem sinais e meios materiais para eleva-los à compreensão do imaterial e sublime.” — Hierarquias Celestes, Dionísio Areopagita.Estas palavras atribuídas a S. Dionísio o Areopagita, são uma afirmação muito precisa das principais razões para o uso do simbolismo. É para remediar as fraquezas de nossa natureza e satisfazer sua necessidade que todas as religiões e mistérios sentiram-se obrigados a criar para si mesmos códigos de símbolos guardados em segredo por uma estrita disciplina de precaução. Foi desta maneira que os Mistérios de Elêusis, de Delfos, de Éfeso e outros foram protegidos, e as mesmas práticas mantidas nos cultos de Mitra e das escolas órficas. Todos reconheciam não apenas o perigo da perseguição mas também a autoridade misteriosa e hierárquica cuja validade Pitágoras afirmava com as palavras: “Não é bom revelar tudo para todos”.

Em todos os países onde se encontraram, os primeiros cristão — não descobrindo riquezas suficientes em seus próprios tesouros de imagens sagradas — adaptaram antigos símbolos religiosos locais para suas próprias crenças particulares.; entre estas, algumas foram dedicadas a representação do Salvador. Outras se prestaram à expressão de grandes temas da vida espiritual cristã, ou pareciam representar uma das perfeições ou papéis de Cristo. Houve pouca modificação das formas aceitas e frequentemente convencionais; assim estas imagens de coisas e de seres reais e imaginários são apresentadas nos trabalhos dos primeiros artistas cristãos exatamente como se vê na decoração de templos, palácios, casas de banho, e outros grandes prédios do Latium ou das províncias romanas. O delfim nas catacumbas, agora representando o Cristo, permanecia a mesma imagem que adornava os mosaicos do palácios e as fontes dos jardins da Roma dos Césares; a âncora mantinha a forma que teve nos templos de Netuno-Poseidon, e o centauro e o grifo, o hipocampo e o hipogrifo permaneciam aquilo que os artistas na Grécia e em Roma os fizeram.

As fontes da emblemática cristã

  • As religiões pré-cristãs
    • Os primeiros cristão adaptaram seu culto os antigos emblemas religiosos locais, entre os quais muitos foram por eles consagrados à representação do Salvador.
  • Os livros sagrados dos dois testamentos
    • As passagens dos livros do AT relativas à “Grande Promessa” de um redentor futuro, foram referenciadas e interpretadas como figuras e signos; todas as coisas citadas nas grandes profecias foram representadas com novas significações.
  • Os livros dos antigos naturalistas
    • Ainda insatisfeitos com a riqueza de seu tesouro de imagens sagradas, os primeiros simbolistas cristãos voltaram-se para as fontes profanas. Os cristão letrados de Roma e da Grécia lendo os livros célebres, especialmente dos primeiros naturalistas, como Aristóteles, Plínio, Dioscórides, Eliano.
  • Os gnósticos
    • Nos legaram inúmeros ideogramas com personagens e figuras estranhos à tradição cristã ortodoxa que se refletiram e marcaram a cristandade incipiente.
  • As ciências herméticas e os estudos medievais
    • A cabala hebraica, as fórmulas rituais das práticas demoníacas ou supersticiosas, as ciências astrológicas e divinatórias, a alquimia natural e o misturada mais ou menos de magia, até de bruxaria, formam um conjunto vulgarmente designado sob a apelação, em suma mal definida, de Hermetismo, quer dizer de ciências secretas, porque comunicadas a raros iniciados.
  • Os primeiros grandes viajantes
    • A literatura dos grandes viagens também se apresentou como fonte de inspiração, assim como foi escrita por tantos viajantes dominados pelo imaginário cristão.
  • As tradições populares

A emblemática cristã e as artes nos séculos passados

  • Perpetuação das formas antigas na emblemática cristã
  • Fixidez das regras no emprego dos emblemas
  • A atenção dada à emblemática cristã pelo espírito do Renascimento