fenomenologia

Quando na época atual se fala de fenomenologia tende-se a entender por tal a fenomenologia de Husserl. Por este motivo referir-nos-emos exclusivamente à fenomenologia husserliana, entendendo-a como método e como modo de ver. Constitui-se o método após a depuração do psicologismo. É preciso mostrar que as leis lógicas são leis lógicas puras e não empíricas ou transcendentais ou procedentes de um suposto mundo inteligível de carácter metafísico. Sobretudo é preciso mostrar que certos atos como a abstração, o juízo, a inferência, etc, não são atos empíricos: são atos de natureza intencional que têm as suas correlações em puros termos da consciência intencional. Essa consciência não apreende os objetos do mundo natural com tais objetos, nem constitui o dado enquanto objeto de conhecimento: apreende puras significações na medida em que são simplesmente dadas e tal como são dadas. A depuração mencionada conduz assim ao método fenomenológico e constitui, simultaneamente, esse método. Para o pôr em marcha é preciso adotar uma atitude radical: a da suspensão do mundo natural. Põe-se “entre parêntesis” a crença na realidade do mundo natural e as proposições a que esta crença dá lugar. Isso não quer dizer que se nega a realidade do mundo natural, como no cepticismo clássico. Apenas sucede que se coloca um novo sinal na “atitude natural”. Em virtude deste sinal, procede-se à abstenção acerca da existência espacio-temporal do mundo. O método fenomenológico consiste, portanto, em examinar todos os conteúdos de consciência, mas em vez de determinar se tais conteúdos são reais ou irreais, ideais, imaginários, etc, procede-se a examiná-los, enquanto são puramente dados. Mediante a suspensão, a consciência fenomenológica pode ater-se ao dado enquanto tal e descrevê-lo na sua pureza. O dado não é, na fenomenologia de Husserl, o mesmo que na filosofia transcendental, um material que se organiza mediante formas de intuição e categorias. Não é, tão pouco, qualquer coisa de empírico — os dados dos sentidos. O dado é a correlação da consciência intencional. Não há conteúdos de consciência, mas unicamente fenômenos. A fenomenologia é uma pura descrição do que se mostra por si mesmo de acordo com “o princípio dos princípios”: reconhecer que “toda a intuição primordial é uma fonte legítima de conhecimento, que tudo o que se apresenta por si mesmo na intuição (e, por assim dizer, em pessoa) deve ser aceite simplesmente como o que se oferece e tal como se oferece, embora apenas dentro dos limites nos quais se apresenta. (IDEIAS). A fenomenologia não pressupõe o nada: nem o mundo natural, nem o sentido comum, nem as proposições da ciência, nem as experiências psicológicas. Coloca-se “antes de toda a crença e de todo o juízo para explorar simplesmente o dado. é, como o declarou Husserl, um ! positivismo absoluto”. (DFW)