Chama-se na psicologia atual ao fato de experimentar, de viver algo, diferentemente da apreensão, do tomar posição de algo que está fora da consciência. Na vivência não há apreensão propriamente dita, porque o apreendido e o vivido são uma e a mesma coisa, e por isso as vivências são consideradas habitualmente como experiências afetivas. Só mediante a análise pode uma vivência ser desprendida do experimentado nela, na medida em que a apreensão se apresenta desde o primeiro momento como um movimento da consciência para algo heterogêneo, tanto se isso é constituído por um objeto sensível como por um inteligível. O primeiro que investigou com amplitude a natureza das vivências foi Dilthey. A vivência é, para este autor, algo revelado no processo anímico dado na experiência interna; é um modo de existir a realidade para um certo sujeito. A vivência não é, portanto, algo dado, somos nós que penetramos no interior dela, que a possuímos de uma maneira tão imediata que até podemos dizer que nós somos a mesma coisa. Na fenomenologia, definida precisamente por Husserl como uma descrição das essências que se apresentam nas vivências puras, o fluxo do vivido é anterior ao físico e ao psíquico, que se encontram dentro dele. As vivências, entendidas como unidade de vivência e de sentido, devem ser descritas e compreendidas mas não explicas mediante processos analíticos ou sintéticos, pois são verdadeiramente unidades e não só agregados de elementos simples. A vivência é efetivamente vivida, isto é, experimentada como uma unidade dentro da qual se inserem os elementos que a análise decompõe, mas a vida psíquica não é constituída unicamente por vivências sucessivas, antes estas e os elementos simples, juntamente com as apreensões, se entrecruzam continuamente. Por outro lado, as vivências decompõem-se, por assim dizer, em vivências particulares e subordinadas, que podem interromper-se no curso temporal sem deixarem de pertencer a uma mesma vivência mais ampla e fundamental. Assim, por exemplo, pode dar-se inclusivamente uma vivência que se repete ao longo de uma vida e à qual se incorporam múltiplos elementos, engrandecendo-a e enriquecendo-a, juntamente com outras vivências que penetram na anterior, mas que pertencem a unidades diferentes. (DF)