Domingos de Gusmão

Domingos de Gusmão, São (1170-1221)

Nasceu em Caleruega (Burgos). Estudante e professor em Valência dell84all91. Nos últimos anos do século XII, encontramo-lo em Osma, onde ingressou no cabido de cônegos reformados. Em 1204 saiu pela primeira vez da Espanha para ir ao sul da França, líder de movimentos populares que reagiram desaforadamente contra a situação rígida da Igreja: cátaros, valdenses, albigenses e outros grupos agitam a Igreja, perturbando-a em sua e costumes. Durante vários anos, Domingos desenvolveu uma atividade incansável nessa região francesa. Em 1207, bem próximo de Toulouse, nasceu a primeira comunidade de dominicanos, a “santa pregação”.

Em 22 de dezembro de 1216, Honório III confirmou solenemente a fundação de Domingos. Era uma comunidade profética que deveria conhecer o que morre e o que nasce, mantendo sua Uberdade para fomentar toda novidade evangélica. Assim se entende a dispersão dos frades, quando eram somente 16, por diferentes partes do mundo. Em 1217, ano do “pentecostes dominicano”, esses 16 frades dirigiram-se a Paris, Bolonha e Roma, centros mais destacados do movimento cultural europeu. Quatro foram para a Espanha. “Todos eram enviados para estudar, pregar e fundar um convento”. Diante da estranheza dessa dispersão, Domingos responderá: “Deixai-me agir; eu sei bem o que faço: amontoado o trigo, corrompe-se; esparso, frutifica”.

Durante os três anos restantes de sua vida, Domingos pregou em Roma e em distintas regiões da França, visitou as comunidades e organizou a ordem. Presidiu os primeiros capítulos gerais de 1220 e 1221… Nos finais de julho de 1221, Domingos voltou a Bolonha doente e esgotado, para morrer a 6 de agosto. Foi canonizado em 1234, reconhecido como “varão apostólico”.

De fato, Domingos faz sua a convicção de pregar o Evangelho imitando os apóstolos. Assim é como consegue, com certa rapidez, fundar uma instituição de um novo estilo com relação ao paternalismo monacal da época anterior. Instituir o carisma da Palavra de Deus sem esgotar sua força, lançar ao mundo missionários itinerantes, tal é sua vocação e sua obra. Os pregadores são profetas, isto é, homens comprometidos com a realidade dos tempos. Assim o pontífice romano os qualifica em reiteradas ocasiões, e até em sua carta de fundação.

A ordem de irmãos pregadores fundada por São Domingos no séc. XIII rompe com o modelo e o estilo das ordens monacais anteriores. De caráter itinerante e mendicante, como os franciscanos, colocam sua atenção na imitação de Cristo e dos apóstolos pregando a palavra evangélica em meio da sociedade e nas grandes cidades. A pregação do Evangelho fica plasmada em seu grande lema: “contemplata aliis tradere”. Ou na grande divisa da ordem: “Veritas”. Meditar e ensinar a verdade: a) nas universidades, que adquirem com os mendicantes seu máximo auge e esplendor; b) pregação ao povo, rompendo o “sinistro silêncio” que há um século cobria a cristandade; c) abrindo novos campos de missão para judeus e muçulmanos; d) falando e convencendo os hereges. A repressão da heresia, em todas as suas formas, parte da mensagem dos pregadores, atividade que exercerão um pouco mais tarde através da Inquisição.

São Domingos, além disso, dá um toque de originalidade à sua obra, antecipando-se aos tempos. Instaura uma sociedade democrática, uma comunidade de irmãos que vivem o Evangelho em caridade. Há uma mútua influência entre Francisco de Assis e Domingos nesta implantação de um “estilo novo de religião”, que levam até a fundação das “ordens terceiras” de seculares.

A ordem de pregadores mantém até hoje sua vocação de pregadores da Palavra de Deus em todas as frentes: a universidade, a teologia, a filosofia, a ciência, a evangelização na América, na Ásia; a palavra falada, escrita; o rádio, a televisão etc. Grandes homens apareceram em todos os tempos de sua história: Santo Alberto Magno, Tomás, Savonarola, Cayetano, Francisco de Vitória, Báñez, Bartolomeu de las Casas, Lacordaire, Lagrange, Congar, Schillebeeckx, e outros.

Na Espanha surgiram também grandes figuras. Além dos mencionados, devemos assinalar São Raimundo de Peñafort, Domingos de Soto e os teólogos da escola Salmanticense. Sem esquecer Raimundo Martí (séc. XIII) a quem Menendez y Pelayo chamam “insigne teólogo, filósofo, escritor e filólogo, das maiores e injustamente obscurecidas glórias de nossa esquecida Espanha”. Sua obra principal, Pugio fldei (Punhal da ), é semelhante à de Santo Tomás (Summa contra gentiles) e a de seu compatriota catalão São Raimundo de Peñafort.

BIBLIOGRAFIA: L. Galmes-V. T. Gómez, Santo Domingo de Guzman. Fuentes para su conocimiento (BAC). (Santidrián)