Neo-escolásticos (séc. XIX)
Atentos ao desenvolvimento do pensamento cristão ao longo da historia, seguimos sua evolução apresentando as Escolas teológicas, as Escolas e universidades da Idade Média e Moderna. Em consonância com isto, demos os nomes daqueles autores que melhor as representam. São os chamados mestres da escolástica cristã, tanto do período medieval (séc. IX-XIV) quanto da escolástica tardia ou espanhola do barroco (séc. XVI-XVII).
Ficaria incompleta a nossa visão se não apresentássemos o desenvolvimento do pensamento escolástico cristão em nossos dias. Esse pensamento recebe o nome de neo-escolástica. Designa o movimento filosófico-teológico contemporâneo “que aspira a restaurar os modelos de pensamento medieval, confrontando as teses centrais dos mesmos com as filosofias modernas”. Inicia-se na segunda metade do séc. XIX e chega até nossos dias.
Os traços estruturais desse movimento neo-escolástico poderiam ser os seguintes: aceitação e repetição de uma tradição herdada; fidelidade ao método dos grandes mestres da escola; tratamento de uma temática herdada dos clássicos e reelaborada em confrontação com modelos de pensamento moderno, junto a uma atitude excessivamente apologética quando se trata de fundamentar os próprios pressupostos fundamentais.
Não obstante, cabe assinalar os sérios esforços de renovação que, tanto na filosofia quanto na teologia neo-escolástica, se deram, como o demonstram os autores que oferecemos em diversos artigos deste dicionário. Deve-se levar em conta que a neo-escolástica teve de lutar não apenas com as correntes da filosofía kantiana e positivista-materialista do tempo, mas também com outras tendências católicas ecléticas como o semi-racionalismo alemão, o tradicionalismo francês e o ontologismo italiano.
Dentro da neo-escolástica, distinguem-se diversas tendências. Surgida do impulso de Leão XIII em sua encíclica Aeterni Patris, essa nova escola promoveu o professorado a escolásticos convictos, e criou novas instituições universitárias. Na Universidade Gregoriana de Roma surgiram, no primeiro terço do século, J. J. Urráburu e L. Billot, entre muitos outros. No Angelicum, também de Roma, surgiu um número importante de filósofos e teólogos como E. Hugón e R. Garrigou-Lagrange. Em Lovaina, M. Mercier e M. de Wulf. No Sacro Cuore de Milão, A. Gemelli. Em Salamanca, Santiago Ramírez e G. Fraile. E assim em outras universidades como Comillas, Toronto, Nimega, Washington, Dublin, Friburgo da Suíça, Instituto Católico de Paris etc.
Não em todos esses centros se entenderam e se cultivaram da mesma forma a ciência e a filosofia. Sob uma orientação eclesiástica e conservadora na Itália e na Espanha, vemos os autores escolásticos centro-europeus em contextos universitários não clericais, abertos a caminhos e a métodos mais amplos. O Instituto Superior de Filosofia da Univesidade de Lovaina, por exemplo, com Mercier à frente, pratica o estudo histórico-crítico dos clássicos da escolástica e amplia a temática filosófica: psicologia experimental, epistemologia, fenomenologia etc. A neo-escolástica germânica prefere os estudos histórico-críticos, como se pode ver em H. Denifle, M. Grabmann e outros. Na França encontramos um grupo de pensadores mais independentes e mais sintonizados com o pensamento contemporâneo. Servem de exemplo, P. Rousselot, J. Marechal, o neotomista J. Maritain e o historiador do período medieval E. Gilson.
Na Espanha são dignos de menção entre os precursores da neo-escolástica e do neotomismo: Jaime Balmes (1810-1848) e Ceferino González. Balmes representa, em parte, a corrente que contribuiu para a reafirmação e florescimento da neo-escolástica, exercendo uma notável influência sobre o cardeal Mercier e a escola de Lovaina. Balmes contribuiu também com a filosofia política, especialmente com vistas a situações concretas colocadas na Espanha do seu tempo. Também não se deve menosprezar o trabalho apologético desenvolvido em sua obra El protestantismo comparado con el catolicismo (1842) e Cartas a un escético en matéria de religión (1841). A moderação e o bom senso encobrem, às vezes, sua postura conservadora.
BIBLIOGRAFIA: Para a neo-escolástica, ver Introduction a la Philosophie néo-scholastique, 1904; Ferrater Mora, Diccionario de filosofia, Neoescolástica. Para Balmes: Obras completas. Ed. de P. I. Casanova. Barcelona 1925-1927, 33 vols. Reedição na BAC. Madrid 1948-1950, 8 vols.; J. M” Garcia Escudero, Antologia politica de Balmes (BAC). Madrid, 2 vols. (Santidrián)