Imitatio Christi

MISTICISMO RENANO-FLAMENGOTHOMAS A KEMPISIMITATIO CHRISTI

Desde o ano 1424 começou a circular esta pequena obra, difundida logo em seguida pela imprensa nascente e publicada em quase todas as línguas da Europa. A obra sendo anônima, seu autor foi objeto de inúmeras pesquisas. Hoje em dia se reconhece em Thomas Hemerken a Kempis (1379-1471), cônego regular, muito tempo mestre de noviços no monastério do monte Sainte-Agnès de Zwolle (Holanda). A imitação se associa portanto ao movimento espiritual holandês que se denominava a si mesmo Devotio Moderna, em razão de sua inovação.


IMITATION DE JÉSUS-CHRIST (versão em francês)
IMITATION OF CHRIST (Christian Classics Ethereal Library)

Jean Canteins: LA PASSION DE DANTE ALIGHIERI

Dante não inovou tanto pois a fórmula Christi passionem imitari se tornou uma espécie de leitmotiv sem fim posto adiante antes que os dois guias da cristandade medieval, Agostinho e Gregório Magno a tenham proposto como ideal para todos os fiéis; o que faz sua originalidade é que esta «imitação» é posta em situação e dada como vivida graças ao poder visionário da afabulação. Embora saturada de teologia, a Divina Comédia não é um tratado de teólogo ou de filósofo, é o poema realista e figurativo de um Vidente que se propõe e é capaz de fazer reviver concretamente uma Peregrinação no Além em contraponto da Paixão.

Ver a Divina Comédia como uma Imitatio Christi não ocorre, todavia, sem dificuldades e, em detalhe, muitos pontos tornam a assimilação contestável. Não há necessidade de aproximar o Poema dantesco do tratado anônimo publicado sob este mesmo título no século seguinte. A finalidade das duas obras é sem medida comum e sua comparação fora de propósito: a Divina Comédia não se situando, evidentemente, no campo da devoção e da piedade, até da santidade como tais, não é ao olhar da direção de consciência (onde precisamente o livro atribuído a Thomas a Kempis é exemplar) que o paralelo se coloca.

A imitação do Cristo parece ser em Dante uma reivindicação fundamental; ela se traduz não somente por sua inserção nos esquemas notoriamente crísticos, mas ainda pela apropriação de atos, de expressões ou de palavras que sabemos pelos Evangelhos se aplicar ao Cristo ou ter sido pronunciadas por ele. Uma das mais claras encontra-se em Inferno 8,45 onde Virgílio se dirige a Dante nos termos empregados em Lucas para magnificar o Cristo (Lc 11,27) e retomados na Ave Maria: «Bendita aquela que te portou!».


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