TRATADOS DE MESTRE ECKHART — O LIVRO DA CONSOLAÇÃO DIVINA
Segundo Alain de Libera é um livro de consolação, como o nome indica, tal qual certo número de livros do gênero existentes na Antiguidade tardia e na Idade Média. Várias tentativas por encontrar a quem se destinava, tiveram como resultado mais provável a rainha da Hungria.
O livro teve grande sucesso principalmente devido a sua estrutura em três partes de tom diverso, mas complementares. A primeira parte é teórica: é uma teologia da graça, da renovação e da justificação, explicando como o homem, feito uno com a Justiça, se torna de algum modo atuado pela Justiça ela mesma e logo não tem mais necessidade de consolação. Esta relação do justo com a Justiça, Eckhart a apresenta em um quadro geral: parte de quatro relações equiformes — aquela do sábio à Sabedoria, do verdadeiro à Verdade, do justo à Justiça, do bom à Bondade — em seguida se concentra sobre a relação bom / Bondade. Este platonismo linguístico espontâneo é a expressão mesmo da estrutura e do dinamismo metafísicos em causa: a participação.
As duas outras partes são mais fáceis. A segunda, puramente prática, propõe uma «trintena de pontos e de conselhos», retirados indiferentemente na tradição patrística e na tradição filosófica pagã — uma mistura bastante significativa e articulada na técnica de redação. A terceira parte que se quer «exemplar», fornece como exemplos e lições, traços e atos de sábios, quando estavam em momentos difíceis.