Ancelet-Hustache
Um dos mais característicos e mais célebres.
Retoma o tema do Sermão 1 com outro vocabulário: é virgem o intelecto que esvaziou-se de todas as representações das coisas, todas as “imagens” criadas (v. kenosis). Fórmula procedente de um fundo doutrinal: quando não se está no tempo, quando se habita imutável no eterno pensamento de Deus.
Sabe que todo despojamento das “imagens” se revela praticamente impossível. Propõe desapego, despossessão destas mesmas imagens, mesmo numerosas.
Intelecto deve estar disponível para realizar “sem antes e sem depois”, a cada momento presente, a caríssima vontade de Deus; assim será virgem e poderá receber Jesus.
O intelecto deve se tornar mulher para ser fecundo. Desapego das imagens e das obras. O intelecto não desapropriado só produzirá poucos frutos; ao contrário, se não estiver apegado ao ser próprio, este “fruto” será produzido milhares de vezes.
A outra “potência” é a vontade, em paralelismo e em termos quase idênticos ao que o predicador diz do intelecto.
Segue um longo desenvolvimento sobre o sofrimento. Sofrer “por Deus”, quer dizer consentir, em se desapropriar de seu sofrimento, como fez das imagens e das obras, é Deus que portará sua carga.
Castelo da alma, uno e simples como Deus uno e simples nele mesmo. Designa o Nada na alma do sermão precedente. Embora Deus gere seu Filho único no intelecto e na vontade, não é aí que Deus e a alma se reúnem mais intimamente. Estas duas nobres potências não são dignas de lançar um olhar sobre este “algo” na alma. Deus mesmo não penetra aí a não ser despojado de todos seus nomes divinos, é a Deidade, o Uno sem modo, “anterior” à difusão das Pessoas da Santíssima Trindade.