GNOSTICISMO — OVELHA PERDIDA
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 107; Evangelho de Tomé – Logion 93
Mas quem são essas ovelhas perdidas que a Jesus preocupa? Mateus dá alguma informação sobre elas e convém revisá-la, pois Jesus se refere à ovelha perdida “entre cem”, e explica o satisfação pela ovelha “encontrada”, pois não é vontade do Pai celestial que se perca um destes “pequeninos”.
Que as ovelhas são os “pequeninos”, resulta evidente segundo o texto de Mateus. Os “pequeninos” são, segundo isto, uma classe particular de seres humanos, e não todos os judeus, se é que se fala de ovelhas de Israel, nem todos os denominados cristãos, se a referência a dizer “ovelhas”.
Mas ocorre que, por sua vez, resulta bastante claro que os “pequeninos”, as “crianças”, são o espelho no qual devem se olhar todos aqueles que pretendem entrar no Reino dos céus, posto que para entrar no Reino é preciso se fazer “como” essas “crianças”, “como” esses “pequeninos”. Isto é como se se dissesse que há que nascer do Espírito para ser “como” o Espírito.
O ensinamento se completa quando explica Jesus nessa passagem das “crianças” que os anjos destes “pequeninos”, não só que se fizeram “como” pequeninos, senão o espelho de si mesmos em que se olharam para se fazer “como” pequeninos, quer dizer, os anjos nos céus, pois eles são o espelho, “veem continuamente o rosto de meu Pai que está nos céus”.
Pois bem, fica claro que esses anjos, essas partículas de luz que são o verdadeiro Ser de cada qual, são os pequeninos, as ovelhas. Se compreende então o gozo celestial pela ovelha que estava perdida e foi encontrada, porque a ovelha é a pérola, o tesouro, a pedra, o homem pneumático, a semente de Deus, da qual se diz que está perdida quando vive cativa, enterrada, sob o peso da ignorância da alma.
A ovelha, a pérola, é o único Ser real e verdadeiro que há no homem, pois é o homem em si mesmo, o eterno, e todo o mais são envolturas adventícias, transitórias, que não subsistem para a Vida verdadeira. É esta ovelha a pérola que há que preservar do ignorante que a mantém revolta com a imundície que agrega, por insensato, a seu puro si mesmo, e que não a vê nem a conhece: Jesus veio, enviado, para resgatar essas ovelhas de seu cativeiro e devolver-lhes sua liberdade perdida (v. CURA DA FILHA DA CANANEIA).