Evangelho de Felipe – filho da câmara nupcial [NDEP]

(128 e 129) Se alguém se tornar um filho da câmara nupcial, receberá luz. Se alguém não a receber enquanto estiver neste lugar, não poderá recebê-la em nenhum outro lugar. Aquele que receber essa luz não será visto nem compreendido, e ninguém poderá afligi-lo enquanto estiver no mundo. E quando deixar o mundo, já terá recebido a verdade em imagens. E o mundo se tornou para ele o Éon (eternidade imutável), pois é para ele plenitude (pleroma). E assim é: é manifesto somente para ele; não está escondido na escuridão ou na noite, mas está escondido em um dia perfeito e em uma luz sagrada.

Este é o último parágrafo do Evangelho de Filipe, portanto, poderia ser visto como a conclusão. De fato, o assunto realmente central desse Evangelho (evaggelion) é a noção de câmara nupcial, o que sugere que fazia parte do ensinamento oculto de Jesus aos seus discípulos mais íntimos. Lembre-se de todas as passagens dos Evangelhos, tanto canônicas quanto não canônicas, em que Jesus se retira para falar especificamente com um ou outro de seus discípulos.

O próximo assunto mais importante é a noção de símbolos e imagens. A noção de “verdade em imagens”, que se repete aqui no parágrafo final, nos lembra da insistência que Felipe faz em quase todos os parágrafos para nos lembrar que, como ele está lidando com ideias que são inexprimíveis em um nível terreno e tem apenas palavras terrenas à sua disposição, é obrigado a falar em imagens. A verdade em imagens é a verdade indizível, ilustrada da melhor forma possível por imagens, que nunca devem ser tomadas literalmente. Devemos nos esforçar continuamente para descobrir o espírito por trás da letra. E isso não é um exercício intelectual! Não é uma questão de traduzir imagens em conceitos filosóficos e intelectuais. Somente a vida pode nos ensinar a realidade suprema.

A insistência de Felipe em tentar nos fazer perceber a única realidade por trás das imagens, por trás da letra, o aproxima surpreendentemente de Jesus, cuja maioria das palavras chegou até nós na forma de parábolas.

A câmara nupcial é o lugar do coração que recebe o toque do amor divino comparado à luz; é o lugar perfeito do coração esvaziado de todas as preocupações e pensamentos terrenos, seja porque está definitivamente desesperado pela vida, seja porque tem um desejo infinito pelo infinito. Mas o desespero infinito encontra o desejo infinito e devolve ao coração aquela limpidez inicial na qual a luz divina mergulhará, assim como um raio de sol penetra no fundo das águas se elas forem perfeitamente transparentes.

O impossível é possível? Essa é uma pergunta fundamental no início da jornada. Quando, por um instante, o plexo solar purificado se une ao coração, que se tornou translúcido, um sentimento inexplicável de amor e felicidade toca o ser humano com sua luz, e imensas perspectivas são reveladas à mente e ao coração maravilhados, que finalmente se realizam. Esse é o nascimento de uma nova alma, preocupada apenas com a nova dimensão que se abriu para ela.

O filho da câmara nupcial é o homem que, passo a passo, segue o caminho da perfeição por meio do contato íntimo com o amor divino. É o homem para quem o impossível se tornou possível. Este é Jesus, estes são todos os grandes em espírito. Ainda nesta Terra, entram no Éon, o campo astral puro do mundo governado pela mão mágica e todo-poderosa da Gnose: Deus como conhecimento supremo e juiz supremo. Tendo se tornado um explorador dessa terra desconhecida e oculta, mas que finalmente resplandece “em um dia perfeito e em uma luz santa”, começa a colaborar em seu poderoso governo e é admitido junto ao Senhor de toda a vida, que chega a compartilhar com aquele que o reconheceu e a quem ama, e que o ama, sua própria onipotência, já que se tornou um de seus servos fiéis, seus verdadeiros filhos.

“Quem receber essa luz não será visto nem compreendido”. Esse é o trabalho da verdade oculta.