Isaac Sirio Tratados Misticos 11

ISAQUE O SÍRIO — TRATADOS MÍSTICOS

Traduzidos para o inglês por A. J. Wensinck, publicada em 1923 (livro raro). Versão para o português de Izabel Carneiro.

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XI ONDE A BELEZA DA VIDA SOLITÁRIA É PARA SER PRESERVADA E COMO PODE SER UMA CAUSA DE DEUS SER GLORIFICADO

É apropriado que o solitário seja, em todos os sentidos, uma visão de incitamento (estímulo) aos que olharem para ele, de modo que, por causa das belezas que irradiam dele por todos os lados — como os raios do sol -, até mesmo os inimigos da verdade reconheçam, contra a sua vontade, que os cristãos têm uma esperança bem fundamentada; e de todos os lados, eles fluirão para o seu lugar de refúgio e, assim, o chefe da igreja será elevado acima de seus inimigos.

Assim, a glória dos feitos do solitário será um incentivo para muitos a retirarem-se do mundo. E (é apropriado) que ele seja reverenciado por todos por causa de sua excelência, de modo que a boca dos membros da igreja venha a abrir-se por sua conta e sua cabeça seja exaltada acima de todos os credos.

O orgulho da igreja do Cristo consiste no comportamento dos solitários. Por isso, é cada vez mais apropriado para o solitário que as belezas de seus bons hábitos brilhem em todos os lados; na atitude humilde de seus membros, na simplicidade de sua roupa, em sua elevação acima das coisas visíveis, na veracidade de sua renúncia, em seu jejum rigoroso, em seu silêncio permanente, na subjugação de seus sentidos, na continência do seu aspecto, em ele não ser briguento com outras pessoas por qualquer motivo, na singeleza de seu discurso, em seu ser desprovido de rancor, em sua consciente e irrestrita simplicidade. E (é adequado) que dele se saiba: que está alheio a esta vida nociva e fugaz e próximo da vida verdadeira e espiritual; que está constantemente por si mesmo; que é desconhecido entre os homens; que não está preso a qualquer um pelos laços de camaradagem e intimidade; de seu tranquilo lugar de moradia; do pequeno espaço de sua habitação; de seus poucos e simples utensílios; de como evita os homens; de seu estar em constante oração; de como odeia e evita honrarias; da sua não vinculação à vida temporal; da sua grande paciência; da sua resistência às tentações; de como permanece afastado de rumores e inquirições sobre assuntos mundanos; de seu constante zelo e meditação sobre o seu verdadeiro país; que é conhecido por seu semblante triste e seu rosto enrugado; de seu pranto constante noite e dia; e, acima de tudo, de sua castidade prudente e de como é desprovido de cobiça nas pequenas e grandes coisas.

Estas são, em suma, as belezas manifestas do solitário, as quais atestam que ele está totalmente morto para o mundo e perto de Deus.

É adequado que ele pense constantemente nessas coisas, a fim de adquiri-las.

Se alguém pergunta: Por que motivo essas longas descrições são necessárias? Eu respondo: elas são muito necessárias. Porque, se alguém procura por elas, uma por uma, em si mesmo, e se alguém que se importa com sua vida lhe falhar, ele poderá identificar, a partir dessas distinções, sua deficiência em qualquer uma dessas virtudes. E, assim, podem essas descrições se tornar para ele admoestações. E se ele possuir pessoalmente todas as coisas descritas e também aquelas omitidas, o conhecimento delas lhe é dado (desta maneira) e, assim, ele tornar-se-á um motivo para que Deus seja louvado entre os homens e os anjos. E, então, ele poderá preparar para sua alma um lugar de descanso antes de deixar este mundo.